domingo, maio 19, 2024
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O sexto sentido dos tubarões

Um detector de campos elétricos ajuda o tubarão a mirar a presa

As ampolas de Lorenzini são órgãos sensoriais especiais, formados por uma rede de canais com eletrorreceptores cobertos por uma substância gelatinosa. Nos peixes cartilaginosos, como os tubarões, as ampolas de Lorenzini são importantes órgãos capazes de detectar variações na temperatura, na salinidade e nas correntes elétricas. Órgão muito utilizado nos momentos de caça, assim como as narinas, capazes de perceber o cheiro do sangue das presas a centenas de metros de distância.

Os peixes têm eficientes órgãos sensoriais, como a linha lateral. Essas estruturas, localizadas na lateral no peixe, permitem que o animal consiga captar movimentos na água e, assim, evitar predadores.

Atraímos os tubarões despejando sangue no oceano, mas e o misterioso “sexto sentido” deles? Pesquisas em laboratório demonstraram que os tubarões conseguem sentir campos elétricos extremamente fracos – como os produzidos pelas células animais em contato com a água do mar.
Até os anos 1970, os cientistas nem mesmo suspeitavam que tubarões fossem capazes de perceber campos elétricos fracos. Hoje, sabemos que essa eletrorrecepção os ajuda a encontrar alimento e pode funcionar mesmo quando as condições ambientais tornam os cinco sentidos comuns praticamente inúteis. Ela funciona em água turva, escuridão total e mesmo quando a presa se esconde sob a areia.

Além dos tubarões, vários peixes conhecidos possuem eletrorreceptores ampolares semelhantes. Veja:

1. Arraias, que deslizam com suas “asas” de barbatanas peitorais ampliadas próximo ao fundo do mar para se alimentar.

2. Peixes-serra, que têm focinho parecido com serra coberto com poros sensores de movimento e eletrossensíveis, que permitem detectar presas enterradas no fundo do mar.

3. Arraias-elétricas, que têm órgãos que desferem descarga elétrica capaz de atordoar ou matar a presa.

4. Esturjões, que usam seu focinho em forma de cunha e os barbilhões semelhantes a bigodes para encontrar alimento nos sedimentos do fundo do mar.

Em 1678, o anatomista italiano Stefano Lorenzini descreveu poros que pontilham a parte dianteira da cabeça de tubarões e arraias, dando aos peixes a aparência de barba malfeita. Ele notou que os poros se concentravam ao redor da boca do tubarão e que, ao remover a pele vizinha, cada poro levava a um longo tubo transparente, cheio de um gel cristalino. Alguns dos tubos eram pequenos e delicados, mas outros tinham quase o diâmetro de um fio de espaguete e vários centímetros de comprimento. Na região mais profunda da cabeça, os tubos se congregavam em grandes massas de gelatina transparente. Ele considerou e então rejeitou a possibilidade de que esses poros fossem a fonte da substância viscosa do corpo do peixe. Posteriormente, especulou que poderiam ter uma “função mais oculta”, mas seu verdadeiro propósito permaneceu sem explicação.

As coisas começaram a se esclarecer em meados do século XIX, com a descoberta da função da linha lateral dos peixes, um órgão que partilha algumas semelhanças com o sistema de poros e tubos de Lorenzini. A linha lateral, que se estende pelo lado de muitos peixes e anfíbios, das guelras à cauda, detecta o deslocamento de água. Nos peixes, ela consiste em uma fileira especializada de escamas perfuradas, cada uma com abertura para um tubo longitudinal logo abaixo da pele. Em protuberâncias ao longo de seu comprimento, células sensoriais especializadas chamadas ciliares estendem projeções esguias, parecidas com escovas (ou cílios), no tubo. Movimentos ligeiros na água, como os causados por peixes nadando a uma curta distância, dobram as massas ciliares microscópicas como um vento causa ondas em uma plantação. Essa reação estimula os nervos, cujos impulsos informam o cérebro sobre a força e a direção do deslocamento de água. Nós, humanos, herdamos uma habilidade descendente dessa linha lateral na cóclea de nosso ouvido.

No final do século XIX, o microscópio revelou que os poros no focinho do tubarão e as estruturas incomuns sob eles, atualmente chamadas ampolas de Lorenzini, deviam ser órgãos sensoriais. Cada tubo terminava em uma bolsa bulbosa, ou ampola. Um nervo fino emergia da ampola e se juntava a ramificações do nervo da linha lateral anterior. Os cientistas rastrearam essas fibras nervosas da base do crânio, onde elas entram no cérebro pela superfície dorsal da medula, um destino característico de nervos que levam informação sensorial ao cérebro. Os observadores discerniram uma única célula ciliar minúscula, semelhante às do ouvido interno humano e do sistema da linha lateral do peixe, dentro de cada ampola.

Para saber mais, assista ao Podcast Tudo de Bio, com o professor Davis Posso.

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