sexta-feira, novembro 22, 2024
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Discurso de Tales M. de Sá Cavalcante, por ocasião de sua posse como Presidente da Academia Cearense de Letras (ACL)

Boa noite!

“Há homens que lutam um dia, e são bons; há homens que lutam por um ano, e são melhores; há homens que lutam por vários anos, e são muito bons; há outros que lutam durante toda a vida, esses são imprescindíveis.” (Bertolt Brecht)

Genuino Sales, meu antecessor neste Silogeu, lutou toda a vida e tornou-se tão imprescindível que, além dos feitos realizados quando entre nós, nomeia a chapa recém-eleita na Academia Cearense de Letras.

Entre os imprescindíveis, há que se destacar um aposentado que nunca deixou de trabalhar. Já exerceu vários cargos, além de prefeito, governador, deputado e senador, e por isso o jornalista Lúcio Brasileiro o batizou de “Ex-Quase-Tudo”. Trata-se de outro Lúcio, o Alcântara. O notável filósofo Sócrates apontava como falha da democracia a escolha do mais popular, e não do mais sábio.

Nas várias eleições que Lúcio Gonçalo de Alcântara ganhou, ele foi o mais popular e o mais sábio. Como nosso Presidente, Lúcio teria direito a um segundo mandato, porém, por livre e espontânea vontade, resolveu não o professar. Com sua decisão, perde a Academia e ganham a acadêmica e o acadêmico. É que Beatriz e Lúcio Alcântara são esposa e marido, confreira e confrade, e agora Lúcio terá maior presença no convívio conjugal. O casal desfrutará de mais tempo, este precioso bem disponível a todos nós e irrecuperável, pois, quando se vai, é para o sempre.

Surgiu, então, uma nova chapa, com mudanças apenas na Diretoria Jurídica, com a inserção do eminente confrade Durval Aires, e na Presidência, com filhos de dois grandes amigos, no caso, Waldemar Alcântara e Ari de Sá Cavalcante, a serem atores da transmissão de cargo do filho de Dona Dolores para o de sua grande amiga Dona Hildete.

Com o falecimento do Barão do Rio Branco, Lauro Müller, em seu discurso de posse, pronunciou uma frase histórica. O jornalista Merval Pereira, atual Presidente da Academia Brasileira de Letras, hoje em viagem, aqui está muito bem representado pelo imortal e grande escritor Antônio Torres, a quem agradeço pela presença. De forma idêntica, Merval citou o seu antecessor, Moacyr Scliar, no seu ingresso à Casa de Machado de Assis. Como Müller e Merval, digo: “Sucedo, mas não substituo Lúcio Alcântara.”

Ao assumir nesta Arcádia a cadeira de número 9, patroneada por Fausto Barreto, senti-me um aprendiz com o privilégio de participar de um centro de excelência. Após a convivência com luminares, posso afirmar “Veni, vidi, vici” ou “Vim, vi, venci”. A vitória não foi pelo combate, como o fez Júlio César. Não mereço, portanto, as batatas machadianas. O sucesso foi obtido pela aprendizagem com gigantes do saber.

Antes, os heróis eram comandantes de exércitos. Agora, o heroísmo se dá pela concórdia. A vitória da nossa chapa se deu pela união de 40 imortais.

Dizia Genuino Sales: “Uma coisa é o que eu faço, outra coisa é o que nós fazemos.” A citação leva-nos a 1930, quando Carlos Drummond de Andrade lançou seu primeiro livro, “Alguma poesia”. E neste, um poema a utilizar o título “Quadrilha”, não no conceito de corja ou gangue, infelizmente muito citado hoje na mídia, senão no de turma ou contradança.

O desencontro amoroso assim é evocado:

“QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.”

O belo escrito provavelmente inspirou Chico Buarque em trecho da letra da música “Flor da

idade”, composta em 1973 e lançada somente em 1975, com o seguinte teor:

“Carlos amava Dora que amava Lia

que amava Léa que amava Paulo

que amava Juca que amava Dora que amava

Carlos amava Dora que amava Rita

que amava Dito que amava Rita

que amava Dito que amava Rita que amava

Carlos amava Dora que amava Pedro

que amava tanto que amava a filha

que amava Carlos que amava Dora

que amava toda a quadrilha.”

Na aurora do ano que se inicia, recebi do prezado amigo professor Artur Bruno uma

adequada mensagem de autor desconhecido e que aconselhava: “Se quiser chegar logo, ande só. Se quiser chegar longe, ande acompanhado.” Objetivos longínquos serão alcançados pela Academia,

uma vez que, a meu juízo, tamanha é a união em seu seio, que, ao pedir vênia a confreiras e confrades, cito longas e verdadeiras sentenças que se seguem:

Angela aclama Batista de Lima que acolhe Beatriz Alcântara que admira Carlos Augusto

que agrada Celma que se alegra com César Ásfor que apoia o outro César, o Barros Leal, que aprecia Cid Carvalho que aprova Diatahy que se associa a Durval que celebra Flávio Leitão que colabora com Geraldo Amâncio que se congratula com Giselda que conta com Grecianny que contempla João Soares que coopera com José Augusto que dá atenção a Juarez Leitão que destaca Laéria que é fã de Linhares que elogia Lourdinha que enobrece Luciano que estima Lúcio Alcântara que exalta Manfredo que se fascina com Marcelo Gurgel que felicita Marly que gosta de Mauro Benevides que homenageia Murilo Martins que ilumina Napoleão que inspira Noemi Elisa que se irmana com Pádua Lopes que louva Pio que manifesta consideração a Regine que se maravilha com Révia que prestigia Sadoc que preza Sânzio que quer bem a Tales que ressalta Teoberto que simpatiza com Ubiratan que tem amizade com Vera que torce por Virgílio.

As pessoas foram citadas em sequência alfabética. Os verbos também. Mas se alterarmos todas as possíveis posições de pessoas e verbos, teremos uma enormidade de diferentes assertivas, todas verdadeiras, num total correspondente à quantidade aproximada de átomos do universo multiplicada por 554 trilhões.

Nos 109 anos desta Casa, o saudoso confrade Pedro Paulo Montenegro revelava: “A palavra

Academia significa ‘escola, lugar onde se ensinam ciências e artes’. Por extensão, veio a designar uma sociedade científica, literária artística. Remonta à Ática, na Grécia antiga, onde o herói mítico Academo possuía um bosque no noroeste de Atenas, por ele denominado Academia, ou Jardins de Academo, onde Hípias construiu um ginásio e Platão reuniu discípulos e doutrinou.”

Após várias academias na Europa, foi criada a primeira Academia de Letras do Brasil, talvez

não por coincidência no Estado que hoje possui o maior destaque na educação pública e particular do país.

Sua estreia deu-se em 15 de agosto de 1894, na Fênix Caixeiral, quando foram protagonistas 27 intelectuais cearenses, entre os quais Tomás Pompeu, na Presidência, Farias Brito, Barão de Studart, Virgílio de Morais e José Carlos da Costa Ribeiro Júnior, bisavô do Senador Tasso Jereissati e da nossa Diretora Administrativa, Regina Pamplona Fiúza. A Arcádia mais antiga do Brasil foi inspirada na Academia das Ciências de Lisboa, com o lema “Forti Nihil Difficile”, ou seja, “Nada é difícil para os corajosos”. Esta é uma boa máxima para explicar o brilho dos cearenses nos concursos mais difíceis, como vestibulares, olimpíadas, residências médicas e seleção às melhores universidades do globo.

Em 1989, com os franceses a celebrar o bicentenário da Revolução Francesa, os cearenses comemoravam a anuência do Governador Tasso Jereissati ao pleito do Presidente deste Silogeu Cláudio Martins para que o Palácio da Luz passasse a ser a moradia da melhor das luzes: o conhecimento. Ambos estavam iluminados ao tornarem um Palácio da Luz o local ideal para abrigar cérebros que seriam boas fontes a luzir o Ceará. Afinal, o nosso Estado foi a primeira província do Brasil a abolir a escravatura, e por isso chamada de “Terra da Luz”. Esta edificação do século XIX é possivelmente o prédio público mais antigo de Fortaleza e foi sede do Governo do Ceará durante 162 anos, consoante Murilo Martins e Regina Fiúza, em seu livro “A Academia Cearense de Letras e o Palácio da Luz”.

Num prédio histórico, numa entidade histórica, pretendemos fazer história. Para tanto, nossa plataforma se alicerça em três itens, a saber:

PRIMEIRO: Executar o que já vinham fazendo os últimos presidentes da Academia, pois todos realizaram primorosas gestões.

SEGUNDO: O fiel cumprimento do Estatuto deste Sodalício, em especial no que reza o Artigo 2º, ao estimular a preservação e o cultivo da cultura e da produção científica, filosófica e cultural de qualidade superior no âmbito da sociedade cearense. O referido Estatuto está para a Academia assim como a Constituição para o país. É o “nosso livrinho”, diria o Marechal Lott.

TERCEIRO: Procurar, sempre que possível, seguir Sua Majestade A IDEIA. Ela funciona como a alavanca de Arquimedes quando dizia: “Dê-me um ponto de apoio e moverei a terra.” São, portanto, bem-vindas todas as ideias, de qualquer pessoa, em qualquer momento.

Os movimentos preconizados por Arquimedes necessitam de algumas pessoas como ponto de apoio e outras a colaborar com esforços a impulsionar a alavanca. Todas elas merecem minha gratidão, expressa a seguir.

As confreiras e os confrades, sobretudo os parceiros de chapa, pela confiança depositada. As 1932 pessoas companheiras de trabalho, em especial as irmãs, Hilda e Dayse, e o irmão João, sócias e sócio no Farias Brito e na FBJ Turismo. A confiança na minha capacidade gestora aqui me colocou, mas, quando a orquestra é excelente, o mérito não é de um, e sim de todos.

Meu irmão camarada José Augusto Bezerra, amigo e conselheiro de todas as horas, que, como maior bibliófilo do país, sabe de tudo e de todos. José Augusto é o que Jim Collins considera líder nível cinco, aquele que lidera sem que os liderados o sintam. É possuidor de uma inteligência interpessoal tão elevada, que o também líder nível cinco Lúcio Alcântara, ao lembrar-se do seu tempo em política, afirmou ser uma pena não o ter conhecido antes.

Minha mulher, a gaúcha Jaqueline, que, ao vir dos pampas, sentiu sincronia numa luz oriunda de quem a viu como uma centelha de um maravilhoso porvir. O encontro foi uma constelação que brilhou e gerou o sol do casal, nossa filha Hildete. A esta, agradeço por, em prol da família, ter conseguido conciliar bem os seus atributos, vários adquiridos por si, uns vindos do acaso, outros por genética e alguns pelo encanto obtido por sua troca de boas luzes com Lucas, não o da Bíblia, e sim o do seu amor.

Liz, filha que me apoia ao iluminar a vida poeticamente e nesta se inscrever filosoficamente. Ana Carmen, por me enviar parte da boa luz que recebe por fé, em companhia do marido, Luciano, e de minhas netas, Luciana, Maria Clara e Ana Carolina.

Os meus agradecimentos, por fim, a todos vocês que nos prestigiaram com suas presenças. Aqui, iluminaram-se entre si, e, se Genuino Sales estivesse entre nós, diria mais uma vez:

“[Iluminados] são os que não odeiam nem se zangam, mesmo em face das maiores provocações; (…)

são os que nunca se intimidam na defesa da honra e da verdade; (…) são os que anoitecem sem mágoas e amanhecem sorrindo.”

Bons sorrisos e muito obrigado!

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